PRINCÍPIOS PARA UMA CULTURA DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO
cultura de segurança: crescimento e cooperação
PRINCÍPIOS PARA UMA CULTURA DE SEGURANÇA
Em uma reclamação trabalhista recente, por acidente sofrido por descarga elétrica, um trabalhador teve o ombro, a clavícula, o braço direito e quatro costelas arrancadas, além de ficar com inúmeras cicatrizes.
O acidente foi assim: o eletricista disse que após 1 mês de trabalho, ao sair do seu turno, deixou um painel de eletricidade desligado, como de costume. Quando chegou para trabalhar no dia seguinte, o painel havia sido ligado sem que os empregados tivessem sido avisados. Quando o trabalhador encostou nesse painel, recebeu uma descarga superior a quatro mil volts. O que deu errado? Quais os itens de NRs que não foram observados? Qual o custo fiscal pelo descumprimento desses itens?
O trabalhador entrou na Justiça visto que a empresa alegava que a culpa era dele. O valor inicial da indenização foi arbitrado pelo magistrado em cerca de R$ 30 mil. Em seguida, o Tribunal Regional do Trabalho aumentou para R$ 200 mil, levando em conta a extensão dos danos sofridos e o poder econômico das empresas.
Esse fato mostra que o custo acidentário aumenta de forma progressiva sendo esse fato compatível com o momento político e social no país de intolerância ao mal feito, à impunidade e à negligência e incompetência. Se o Supremo Tribunal Federal sinalizou com o mensalão o que poderá vir a ser o fim da impunidade na política, essa tendência já existe há algum tempo nos tribunais do trabalho com relação à impunidade de empresas que contribuem para a eclosão de doenças e acidentes no trabalho.
Assim, não resta dúvida da importância crescente de que as empresas trabalhem para a criação e alimentação de uma cultura de segurança. Trata-se de assunto recorrente em nosso meio, mas é sempre interessante agente avaliar opiniões novas e de outros contextos. É este o foco do artigo abaixo publicado no site ohs on line, traduzido e contextualizado com exclusividade pelo Prof. Samuel Gueiros para os usuários do Blog NRFACIL.
Siga esses passos para desenvolver um programa abrangente de segurança que possa proteger completamente os trabalhadores em seus ambientes de trabalho.
Adam Croskey, Randy Marzicola,
Diretores de Segurança, implementam sistemas de segurança
de empresas em diversos países
OHS on line
Através da criação e alimentação de uma cultura de segurança, as empresas não apenas desenvolvem prevenção mas tambem reduzem os alto custos fiscais e trabalhistas de acidentes. Um rigoroso e abrangente programa de segurança endossado por supervisores e empregados da empresa e que possa contar tambem com uma auditoria independente e externa, pode ajudar empresas e adquirir uma constante e contínua melhoria.
Destaque: participação ampla e auditoria externa |
Acidentes e doenças do trabalho tem um impacto financeiro social e econômico e cada indústria. Estima-se em mais de 40.000 dolares o custo de cada lesão incapacitante nos Estados Unidos. Este número inclue perdas de empregos, despesas médicas e administrativas inclusive da empresa. Os custos de compensação a trabalhadores (como o caso do acidente com eletricidade) resulta em mais de 50 bilhões de dólares tambem nos Estados Unidos.
O prejuízo da empresa no acidente com eletricidade foi de 200 mil só na Justiça do Trabalho |
Entretanto, há tambem um impacto financeiro importante que vai se ampliando quando o empregado começa a se recuperar de um acidente: perdas na produção, baixos salários e custos fiscais impostos tambem pelo Ministério do Trabalho durante auditorias. Outros custos incluem despesas de recrutamento, retreinamento e reposição de trabalhadores. Além disso, a empresa precisa lidar com o moral em baixa dos trabalhadores principalmente quando há uma repercussão importante, uma percepção interna e externa de que naquela empresa há um ambiente inseguro.
Após retornar de um acidente o empregado não é mais o mesmo e retreinar custa caro; leia o post Retornando ao Trabalho após um acidente |
TOP 3
Há um padrão consistente nos tipos de infrações que vem sendo observadas de forma mais frequente por autoridades em segurança e saúde nos países durante os últimos anos.
Andaimes inseguros, queda de altura, e falta de informação de riscos, tem sido o top 3. Por exemplo, queda de alturas corresponde aproximadamente a 9 milhões de atendimentos em pronto socorro a cada ano. Inclusive, os custos associados a quedas no mesmo nivel e em desnível – a segunda e terceira causas de lesões incapacitantes – em 2009, aumentou cerca de 34 e 10% respectivamente, nos últimos 12 anos.
No Brasil os custos são crescentes e os acidentes de trabalho com queda são um dos maiores nos pronto socorros |
Proteção de Andaimes e contra quedas continua a ser problemático devido ao fato de que geralmente as empresas acham difícil executar soluções simples e de baixo custo.
Duas possíveis razões para esse tendência crescente (veja o post anterior sobre PDSA, que analisa tendencias em riscos e acidentes) relaciona-se ao fato de que as pessoas pensam que as tarefas que apresentam um risco de quedas, estas raramente ocorrem e ainda por cima acham que dá muito trabalho realizar uma avaliação formal para determinar como o risco pode ser completamente eliminado
Entretanto, isto apenas agrava o problema resultando em mais quedas nos ambientes de trabalho.
PRODUZINDO BENEFÍCIOS
Muitas pequenas empresas se sentem assoberbadas para começar um programa de segurança por considerar o tempo e os custos financeiros nesse processo. Neste caso, trabalhar com um consultor em SST deve ajudar essas empresas a identificar táticas de baixo custo que podem ser implementadas.
No Brasil, é preciso considerar e comparar o custo de investimento com o custo fiscal por descumprimento de regras de segurança durante auditorias do Ministério do Trabalho. Reveja post publicado neste blog com essas análises. |
O benefício mais importante de um programa abrangente de segurança é para a própria empresa e seus empregados. O mais importante recurso de uma empresa é, sem dúvida, o seu pessoal. Os trabalhadores, não importa que tipo de indústria, possuem conhecimento incalculável do negócio bem como de tarefas específicas adquiridas por treinamento e experiencia. A segurança é um elemento fundamental no recrutamento e permanência de trabalhadores e certamente os fará se sentir valorizados.
Conhecimento da tecnologia e treinamento dos trabalhadores, já existentes, constituem pontos de partida para desenvolver uma cultura de segurança |
Fazer com que as pessas sintam seu bem-estar e saúde no trabalho é tambem importante para incrementar o moral e a reputação da empresa na comunidade. Como resultado de um programa de segurança – melhoria contínua com supervisão e envolvimento dos empregados – devem ajudar a superar qualquer barreira que possa criar obstáculos à criação do Programa.
BOAS PRÁTICAS:
ANALISAR, IMPLEMENTAR E MONITORAR
Quando uma empresa começa a desenvolver uma iniciativa para criar um Programa de Segurança no Trabalho, ela deve considerar as seguintes boas práticas:
Selecionar uma metodologia em segurança consistente. Algumas empresas de construção adotam iniciativas como acidente zero e a Seis Sigma com o objetivo de eliminar todos os acidentes nos locais de trabalho. Selecionam indicadores chave de performance e objetivos para o programa de segurança. Considera ainda os indicadores de indústrias da mesma atividade – acidentes, dias de trabalho perdidos para fazer uma comparação. |
o princípio fundamental do Seis Sigma é o de reduzir de forma contínua a variação nos processos, eliminando defeitos ou falhas nos produtos e serviços. Consiste em uma prática de gestão voltada para melhorar a lucratividade de qualquer empresa, independentemente do seu porte. Atualmente, o Seis Sigma tem a finalidade de aumentar a participação de mercado, reduzir custos e otimizar as operações da empresa que o utiliza. Consulte a metodologia empregada no Wikipedia Como envolve mudança de cultura na empresa há sempre uma forte resistência inicial a sua aplicação por parte dos colaboradores e equipes. A questão da cultura organizacional é relevante quando se trata do Seis Sigma, prova disso é o fato de que as empresas que implantaram este programa são as de maior tradição de qualidade, ou seja, já haviam adotado outros programas de qualidade. |
Mobilizar a supervisão da própria força de trabalho. Um programa ideal de gerenciamento em segurança requer cooperação entre a supervisão e os trabalhadores. A Supervisão deve fazer da segurança alta prioridade para a empresa e encorajar os trabalhadores para levar o programa a sério. Isto significar de que todos devem participar inclusive relatando os incidentes que possam afetar todas as pessoas, sem medo ou repressão |
Conduzir uma análise abrangente sobre segurança. Revisar todas as tarefas nos ambientes de trabalho dando a máxima prioridade às áreas de alto risco, como quedas de altura, espaços confinados, segurança em eletricidade, e trabalho com equipamentos pesados desde que falhas nesses locais podem gerar consequências sérias e fatais. |
Avaliar os riscos de cada tarefa e elaborar planos para corrigi-los. Os ambientes de trabalho precisar ser mais proativos para eliminar progressivamente procedimentos problemáticos e substitui-los para práticas novas e seguras. |
Implementar soluções que assegurem o equipamento certo para cada trabalho. Por exemplo, se a empresa está investindo na prevenção de quedas, uma das mais frequentes infrações, uma escada de extensão pode não ser a melhor escolha para trabalhadores que necessitam usar ferramentas manuais para acessar equipamentos acima. |
Se possível utilizar auditoria externa para desenvolver avaliações de segurança. Torna-se difícil para a equipe interna de segurança desenvolver uma completa e intensiva auditoria interna porque ela pode avaliar o programa com uma visão subjetiva. Uma auditoria externa pode trazer uma perspectiva mais confiável. Nos Estados Unidos, o Ministério do Trabalho de lá ofere consultoria para empresas com até 250 empregados. No Brasil, algumas consultorias podem realizar esse trabalho a um preço acessível. |
À medida em que o programa de segurança é implementado é necessário dar publicidade aos indicadores em local onde a maioria dos empregados possam vê-los. Colocá-los em um quadro negro ou um poster, por exemplo, ajudará a reforçar o comprometimento com uma cultura de segurança e capacitará os trabalhadores a terem um papel mais ativo assim como a empresa investe na busca de seus objetivos. |
Promover educação continuada e treinamento como um compromisso com a segurança, saúde e a qualidade geral, de forma que os supervisores e trabalhadores possam desenvolver as habilidades para realizar suas tarefas da maneira mais seguraA |
empresa evolui no seu programa de prevenção ela pode avaliar as lideranças que são mais bem sucedidas em prevenir lesões nos ambientes de trabalho e assim estimular o seu exemplo. |
PERSPECTIVAS PARA O FUTURO
Desenvolver avaliações de risco e implementar soluções baseadas em análises mais detalhadas, constitui a chave para assegurar segurança no trabalho.
Após constatar os benefícios de uma iniciativa abrangente em relação à segurança, as empresas podem começar a incorporar indicadores desse Programa nos seus próprios indicadores de performance empresarial, tipo qualidade e custo, e assim tornando a segurança como um importante objetivo de negócio.
Cooperação entre empregados e supervisores pode levar a uma efetiva e eficiente iniciativa de prevenção de lesões assim como uma mudança cultural na direção de equipes de segurança bem sucedidas.
CONCLUSÃO
Um time formado com essa mentalidade irá se fixar nos objetivos do programa à medida em que os trabalhadores entendem que a segurança no trabalho é uma prioridade absoluta e que possuem os meios para implementar soluções sem obstáculos.
No próximo post tentaremos responder às questões postas no início em relação ao acidente com o empregado do setor elétrico: o que deu errado? Quais os itens de NRs que não foram observados? Qual o custo fiscal pelo descumprimento desses itens? Vamos utilizar as ferramentas do software NRFACIL para respondê-las. Aguarde.
Prof. Samuel Gueiros
Med Trab
Auditor Fiscal Auditor OHSAS 18001
Coord NRFACIL
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