DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE: TECNOLOGIA E CICLO DE VIDA
No dia 05 de Junho comemora-se o Dia Mundial do Meio Ambiente.
Duas questões principais estão relacionadas ao binômio indústria x meio ambiente e consequentemente devem envolver os profissionais da CIPA e do SESMT nessa discussão:
1. O custo para as indústrias na adoção das medidas legais de proteção ambiental, visto que esse custo inclui a necessidade de treinamento e qualificação de profissionais para lidarem com novas tecnologias e consequentemente com novos riscos; discute-se a crescente resistência das empresas em modificar processos para reduzir a degradação ambiental em suas atividades;
2. O problema do ciclo de vida de máquinas, equipamentos e produtos, que, tornando-se cada vez mais curtos pela obsolescência, representam uma carga adicional ao meio ambiente; para os trabalhadores, esse problema está relacionado aos processos de reciclagem de materiais, já abordado no post “riscos verdes” neste Blog;
Na tentativa de incorporar questões ambientais ao desenho de produtos, de forma a reduzir os impactos ambientais, as empresas estão buscando inovar e qualificar trabalhadores bem como desenvolver um foco em cima do ciclo de vida de materiais, produtos e edificações.
TENDÊNCIAS
No passado, os produtos eram fabricados e vendidos e ninguém se importava com o que acontecesse depois. De fato, esses produtos tinham mais durabilidade e se mantinham “na moda” por mais tempo. A competição estava centrada na durabilidade e no longo ciclo de vida do produto. Isso acabou gerando os clássicos: relógios suíços, carros americanos, eletrônicos japoneses, máquinas alemãs.
Agora, a competição está centrada na ” novidade” e assim o ciclo de vida dos produtos encurtou de tal modo que a sociedade e o meio ambiente começaram a ter que acumular uma série de produtos que se tornam rapidamente obsoletos que mal se sabe onde guardar ou descartar – carros estão sendo abandonados e equipamentos eletrônicos amontoam-se em lixeiras, principalmente oriundos da indústria da informação, aumentando a quantidade e os riscos para os trabalhadores de indústrias ligadas à reciclagem.
TOTAL RECALL
Na década de 70, as empresas começaram a demonstrar uma maior preocupação com o ciclo de vida dos produtos, estruturando serviços complexos destinados à manutenção e criando uma expressão que se tornou popular na década de 80: o recall, ou seja, uma chamada de usuários para manutenção de falhas observadas depois que o produto foi colocado no mercado. No filme “Total Recall”, há uma alegoria sobre um ser biônico que fugiu do controle e precisava de uma revisão completa, na verdade de ser eliminado pois estava “descobrindo coisas”. O filme faz uma referência às crescentes falhas observadas no desenho de máquinas e equipamentos, um dos motivos para a rápida obsolescência e busca por um novo produto melhor.
E no filme clássico “Blade Runner” em que o ser humano vive em um grande lixão tecnológico, um policial precisava destruir androides que queriam ser gente. Ambos os filmes, da década de 80, registravam o cáos da produção desenfreada de máquinas e da obsolescência crescente dos produtos postos no mercado, aumentando a poluição e a degradação do meio ambiente.
A SOCIEDADE EFLUENTE
Nas décadas de 60 e 70 chamava-se a sociedade “afluente”, aquela em que todo mundo queria consumir, sendo o ideal o modelo americano. Agora, vislumbra-se uma sociedade “efluente”, em que o consumo levou a todos para o lixo tecnológico.
O CICLO DE VIDA
Portanto, a preocupação com o impacto ambiental deriva de que, queiramos ou não, os produtos fabricados afetarão de alguma maneira o meio ambiente durante o seu ciclo de vida. As autoridades governamentais começam a colocar um foco no final desse ciclo visto que é aqui que começam de forma mais significativa os impactos ambiental e ocupacional. A legislação ambiental dos países passou a obrigar as empresas a observar esse ciclo de vida, relativamente ao descarte ou reuso de produtos e materiais, o chamado “desmanufaturamento”.
RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL
Existem uma série de fatores que estão levando as companhias a ficarem mais ambientalmente responsáveis:
1. Legislação, as políticas públicas vão ficando mais rigorosas;
2. Demandas dos usuários, que vão ficando mais conscientes da questão ambiental em vários países;
3. Aumento dos chamados “produtos verdes” e o reconhecimento de que esses produtos possam se tornar mais competitivos;
4. Certificações, como o ISO 1400, que estabelece padrões de gerenciamento para o meio ambiente;
5. Alguns produtos são rotulados como DFE (Designed for Environment), ou seja, Desenhado para respeitar o meio ambiente.
Além disso, há um estímulo a se renovar práticas para aumentar a vida útil de produtos, como era praticado no passado. A busca por novas tecnologias inclui não apenas a preocupação com o meio ambiente mas sobretudo como aumentar o ciclo de vida e durabilidade dos produtos. Muitos produtos mantem sua utilidade por um longo período, mas são descartados pela indústria, induzindo ao consumidor comprar outro produto que, mesmo mais atualizado, nem sempre é tão funcional quanto o modelo anterior. Ou seja, a indústria estimula a obsolescência para aumentar os lucros em novos lançamentos, mas em contrapartida, degrada-se o meio ambiente com o lixo tecnológico.
Algumas questões estão sendo postas para que os projetistas e os profissionais do SESMT possam contribuir conjuntamente na busca de soluções. Tente colocar essas perguntas dentro de sua empresa:
1. Qual é a motivação de sua empresa e os objetivos para integrar questões ambientais na produção?
2. Quais as atuais capacidades da organização para dar conta dessas inovações?
3. Quais seriam as novas práticas, ferramentas e estrutura organizacional necessária?
4. Qual seria a melhor maneira para implementar as mudanças necessárias?
5. Quais os mecanismos utilizados para uma continua avaliação, reavaliação e melhorias?
Foram identificadas 3 classes de abordagens para a resposta a essas questões e veja se sua empresa está em uma ou nenhuma delas:
1. Abordagens focadas em estágios específicos do ciclo de vida de um produto (por exemplo, na matéria prima, na fabricação ou no acabamento);
2. Aquelas focadas em todos os estágios do ciclo de vida;
3. Aqueles focados além do ciclo de vida dos produtos (previsão de desgaste e reuso).
AUMENTO DO CICLO DE VIDA
Em linhas gerais, o desenho de um produto moderno está sempre tentando conseguir um produto melhor e mais barato dentro do menor tempo possível. Mas agora, há uma preocupação em como aumentar o ciclo de vida desses produtos evitando-se um futuro prejuízo ao meio ambiente. A situação é tipicamente uma tarefa multidisciplinar e afeta todos os níveis da empresa, incluindo os profissionais que lidam com o treinamento de trabalhadores.
As preocupações ambientais no desenho de materiais e produtos estão sendo incorporadas em grandes empresas, e essas por sua vez passaram a pressionar as pequenas e médias empresas a tambem adotarem essas medidas, geralmente aquelas que fabricam componentes, e as terceirizadas. Observa-se assim um efeito dominó, que pode reduzir os impactos ambientais da atividade industrial em todos os níveis.
Para os estudiosos é apenas uma questão de tempo, antes que bancos, companhias de seguros e empreendedores possam entender os benefícios e o valor, por exemplo, da “consciência verde” na indústria da construção civil, criando uma grande mudança na estrutura desse mercado, com novos produtos e tecnologias verdes. De qualquer forma, os trabalhadores precisam ser treinados para conhecer e saber aplicar esses novos materiais.
O FUTURO É VERDE
Por fim, observa-se que muitas indústrias, projetistas e engenheiros concordam que o ponto principal é não apenas SE deve haver uma responsabilidade ambiental OBRIGATÓRIA para o desenho e produção de materiais e equipamentos, mas, tão somente QUANDO e COMO essa obrigação se tornará inevitável. Para as empresas que não começarem a se antecipar nesse processo, a situação pode ficar mais complicada com a legislação ambiental ficando cada vez mais severa em vista da pressão social por mais responsabilidade social e consciência ambiental.
Prof. Samuel Gueiros
Medico do Trabalho (Univ Gama Filho, RJ)
Pos Grad Plan e Adm Serv Saude (Univ Leeds, Inglaterra)
Esp Educação Ambiental (Univ Federal do Pará)
Muito bom
Posso dizer que sou amante a natureza adorei esse tema.