ITAQUERÃO: ENCONTRADAS FALHAS NAS PEÇAS DO GUINDASTE (DESGASTE E MANUTENÇÃO)
Revisando grandes acidentes ocorridos nos últimos anos, e agora o do Itaquerão, constata-se um problema que vem se tornando recorrente em todas as investigações sobre eles: o desgaste e a falta de manutenção, entre outros motivos. No caso do Itaquerão, este problema vem agora se somar a mais outros já colocados como prováveis envolvidos: falha operacional, instabilidade do solo e velocidade dos ventos, problemas já abordados por especialistas e nos comentários de leitores deste Blog. Abaixo, notícia da Folha de São Paulo deste último domingo:
Investigação inicial aponta desgaste em peças de guindaste no Itaquerão
André Caramante, Folha de S Paulo (01/12/13)
Peças do guindaste que erguia a estrutura metálica que caiu e matou dois funcionários nas obras do Itaquerão, na quarta, estavam desgastadas.
Essa é, segundo as análises iniciais dos peritos do IC (Instituto de Criminalística), da Polícia Técnico-Científica de São Paulo, uma das mais fortes hipóteses para o acidente.
As primeiras conclusões dos peritos surgiram entre a tarde de quinta e a manhã de sexta, após minucioso registro fotográfico do local do acidente e das peças do guindaste, que tem capacidade para erguer 1.500 toneladas a até 114 metros de altura.
Ainda de acordo com as primeiras análises dos peritos, o laudo final do caso apontará mais de um ponto como causa do acidente.
Além da falha mecânica provavelmente causada pelo desgaste em algumas peças do guindaste, os investigadores também trabalham com possíveis falhas humanas e com a instabilidade do solo onde a máquina operava.
Durante a primeira fase do trabalho, os peritos têm se concentrado nas extremidades da lança do guindaste que sustentava a peça.
(Folha de São Paulo)
PROBLEMA COMUM EM OUTROS ACIDENTES
Prof. Samuel Gueiros
Recentes acidentes maiores, como os da Estação brasileira da Antártida em 2012, demonstraram que um dos fatores determinantes é a falta de manutenção ou manutenção inadequada. A estação pegou fogo destruindo 70% das instalações.
Há seis anos, em 2006, o almirante Antonio Cesar Sepulveda alertou, em artigo, para graves problemas na Base Comandante Ferraz, na Antártida. Culpou instalações corroídas pela ferrugem, falta de prevenção contra incêndio e de manutenção dos tanques de reabastecimento, tudo funcionando “na base do jeitinho”, além de laboratórios e alojamento precários.
Outro acidente devido a falhas graves de manutenção foi o da Plataforma de Petróleo do Golfo do Mexico, ocorrido em abril de 2010, que matou 11 trabalhadores e provocou um vazamento de petróleo com alcance devastador para o meio ambiente da região, tendo sido controlado somente em Julho.
Auditorias de 2009 revelaram que um dos principais problemas era a precariedade da manutenção. Haviam 390 reparos pendentes, incluindo vários considerados de alta prioridade e que iriam requerer mais de 3.500 horas de trabalho. Observaram-se equipamentos de segurança com data de inspeção vencida, os registros de manutenção eram defasados com ausência de informações e qualidade pobre de relatórios que deixavam de registrar detalhes suficientes para convencer o leitor que a tarefa teria sido cumprida de acordo com o procedimento previsto.
ACIDENTES EM PLATAFORMAS DA PETROBRÁS
Em fevereiro de 2011, Fiscais do Ministério do Trabalho interditaram uma plataforma da Petrobras, que já havia parado um mês antes, após um incêndio sem vítimas.
Entre os problemas encontrados pelo fiscais, destacam-se a precariedade do sistema de combate a incêndio, falta de iluminação de emergência, insuficiência do ar condicionado, falta de inspeções nos separadores atingidos pelo incêndio e falta de barreiras de contenção nas áreas do incêndio.
Essas falhas tem sido comprovadas sempre por ocasião das auditorias independentes e de auditorias fiscais.
Em todos esses acidentes verificou-se no final, que a pressa e a necessidade de lucro no menor tempo do cronograma, ocasionaram prejuízos que foram muito maiores do que os custos da manutenção e da prevenção. E em todos eles os responsáveis ignoraram os alertas e recomendações da segurança e da manutenção. E a mesma coisa vai acontecer agora no acidente do Itaquerão.
MANUTENÇÃO NAS NRs
A palavra MANUTENÇÃO aparece em cerca 70% de todas as NRs. A NR-6 já prevê medidas de manutenção dos EPIs. A NR-5 está toda calcada em cima da prevenção. E na NR-9 estão estabelecidos os mecanismos de antecipação, reconhecimento e controle de riscos.
Uma das NRs que mais fala de manutenção (cerca de 20 ocorrências em uma busca por palavras) é a NR-12 (MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS).
De acordo com parâmetros internacionais, MANUTENÇÃO pode ser definida como a“combinação de todas as ações técnicas, administrativas e de gerenciamento durante um ciclo de vida de algum item, direcionado para mantê-lo ou restaurá-lo para um estado no qual ele possa realizar a função requerida”. Esses itens podem ser ambientes de trabalho, equipamento de trabalho ou meios de transporte.
Manutenção é um termo genérico para uma variedade de atividades em todos os setores e em todos os tipos de ambientes de trabalho. Isto inclui atividades como inspeção, testagem, medidas, ajustes, reparos, deteção de falhas, reposição de partes, revisão, lubrificação e limpeza.
Atividades de manutenção recebem pouca atenção e poucos estudos em prevenção são efetivamente dedicados a essas atividades. Segundo um Estudo da Agência Européia para SST, todas as investigações de acidentes deveriam começar por avaliar a política de manutenção da empresa.
A Manutenção é uma atividade crítica para assegurar produtividade contínua e assim gerar bens e serviços de alta qualidade e sobretudo para manter as companhias competitivas. Existem vários exemplos de acidentes, como os mencionados aqui, em que a ausência ou manutenção inadequada pode levar a situações de alto risco, acidentes e problemas de saúde, e mesmo, de acidentes maiores.
Segundo a AESST, a própria atividade de manutenção não é considerada apenas um setor, mas uma atividade de alto risco, desenvolvida em todos os setores e em todos os ambientes de trabalho.
Além da importância da Manutenção como atividade essencial de prevenção, estatísticas apontam que mesmo assim, 10 a 15 % de acidentes fatais e 15 a 20% de todos os acidentes estão associados a manutenção. Portanto, mesmo prevenindo riscos, a Manutenção é também uma atividade de alto risco.
ASPECTOS PRÁTICOS DE MANUTENÇÃO EM SST
traduzido de um Relatório da Agência Européia para SST
Além dos riscos associados em qualquer ambiente de trabalho, operações de manutenção envolvem alguns riscos específicos.
O principal é trabalhar ao lado de outros processos em andamento e em estreito contato com máquinas e equipamentos. Durante uma operação normal, a automação tipicamente diminui a probabilidade de erro humano que possa levar a acidentes. Em atividades de manutenção, ao contrário da operação normal, o contato direto entre o trabalhador e a máquina não pode ser reduzido de forma significativa – manutenção é uma atividade onde trabalhadores precisam estar em íntimo contato com processos.
A Manutenção geralmente envolve trabalho não usual e tarefas fora da rotina e desenvolvidas em condições excepcionais, como o trabalho em espaços confinados.
Operações de manutenção de forma típica incluem ambos, montagem e desmontagem, geralmente envolvendo maquinário complicado. Isto pode estar associado a um grande risco de erro humano, aumentando o risco de acidente. Manutenção envolve tarefas em constante mudança, em um ambiente de trabalho ativo. Isto é especialmente verdadeiro no caso de trabalhadores contratados. Subcontratação é um fator agravante em termos de segurança e saúde – numerosos acidentes e incidentes estão relacionados a manutenção subcontratada.
Trabalhar sob pressão do tempo é outro aspecto típico de operações de manutenção, especialmente quando é preciso parar produção ou reparos de alta prioridade estão envolvidos. Parece óbvio que atenção ao gerenciamento de riscos associados ao trabalho de manutenção é muito importante para a prevenção de agravos à segurança e saúde dos trabalhadores.
Uma das melhores maneiras de prevenir e controlar riscos ocupacionais relativos à manutenção é antecipá-los antes de desenhar os processos de construção e de estruturas, ambientes de trabalho, materiais e a planta de maquinário bem como o equipamento. (tarefas previstas na NR-9).
Como a Manutenção implica em uma variedade de atividades ela não está restrita a uma única ocupação. O tipo de manutenção depende do setor em que a manutenção está sendo desenvolvida. Assim, os riscos a que os trabalhadores de manutenção estão expostos pode ser tambem muito diferente, dependendo da tarefa e do setor onde se está trabalhando.
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