A maior parte das questões ligadas à SST tem como principal foco a prevenção de doenças e acidentes. Em algumas empresas que cumprem de forma objetiva as normas de segurança e que implantam procedimentos para a progressiva criação de uma cultura de segurança, os índices de acidentes começam a diminuir. E aí, o que pode ocorrer nessa situação, o que vem depois? para muitos profissionais experientes essa é uma situação atípica, mas vale a pena analisá-la.

Neste post vamos abordar uma experiência de acentuada redução de acidentes em uma empresa química após a implantação de uma técnica chamada Segurança Baseada em Comportamento (BBS ou Behaviour Based Safety) e as consequências desse processo.

O Estudo em que baseamos este Post, está disponível na Internet  e mostra que a empresa tinha um dos mais baixos níveis de acidentes na indústria química, praticamente 30% abaixo da média de outras indústrias similares.

DADOS HISTORICOS

O Estudo, realizado pela Dupont na década de 20 mostrava que a partir de avaliações sistemáticas nos registros da empresa, cerca de 96% dos acidentes com afastamento do trabalho era devido ou atribuído a atos inseguros, ou seja, a comportamento de risco.

Com esses resultados, a empresa desenvolveu um Programa de treinamento em segurança baseado em observação do comportamento. Esse processo era desenvolvido com uma técnica denominada Auditoria em Camadas, ou seja, a empresa fazia auditorias de segurança em cada setor da empresa semanalmente coletando e classificando comportamentos de risco nos diversos setores. Essas auditorias visavam identificar comportamento inseguros, sem contudo identificar o trabalhador envolvido, gerando o que se denomina hoje de Segurança Baseada em Comportamento (BBS).

O resultado da experiência na Dupont é que os índices de incidentes começaram a ficar tão baixos que a empresa começou a se preocupar sobre possíveis consequências desse fenômeno. Pra se ter uma idéia de como ficou a situação, a probabilidade de um trabalhador sofrer um lesão no trabalho era de apenas 1 em 30 anos de atividade! 

Outros Estudos resolveram testar e até contestar os resultados da Dupont, tendo sido realizadas pesquisas durante 10 anos, não só em indústrias químicas mas em diversas indústrias que aplicavam a mesma técnica da empresa na utilização de check lists de segurança. Os resultados foram semelhantes, ou seja, entre 86 e 96% dos acidentes estavam relacionados a comportamentos de risco e outros 20% a comportamento e condições de trabalho, comprovando que as auditorias baseadas em comportamento são de fato eficazes.

O QUE ACONTECE QUANDO OS ACIDENTES DIMINUEM? 

O resultado da experiência da Dupont com essa redução resultou no aparecimento de um outro fenômeno denominado de COMPLACENCIA. 

E o que é complacência? nesse contexto, complacência significa perder o medo do acidente que é o que mais motiva a adotar um comportamento seguro.

Um dos principais fatores que levavam as pessoas a se comportarem freqüentemente de forma insegura é que eles nunca se machucavam antes por realizar o trabalho de forma segura e esse comportamento começou a fazer com que ele buscasse realizar a tarefa mais rápido, criando alguns atalhos e ficando vulnerável.

Com a complacência reaparecem novos comportamentos de riscos com probabilidade de reverter as conquistas em relação à redução de acidentes. É bom salientar que a complacência existe em qualquer situação de trabalho, mas quando os acidentes diminuem, esse comportamento aparentemente parece aumentar mais ainda.  Um exemplo prático de complacência é quando o trabalhador resolve “pular” alguns procedimentos de segurança, como se o trabalhador pensasse “já que fazer assim não tem acidentes, que tal fazer de um jeito que eu acabe mais rápido essa tarefa”?

Essa acentuada redução de probabilidade de acidentes serviu como base para legitimar na empresa a continuidade do Programa de Auditorias em camadas e baseada na identificação precoce de comportamentos de risco. E, sobretudo, evitar o aparecimento da Complacência.

ATOS E CONDIÇÕES

A técnica de empregar procedimentos de segurança baseados em comportamento (BBS) consiste em observar e listar comportamentos de risco durante a execução das tarefas e em seguida procurar modificar o comportamento diretamente com o trabalhador no seu posto de trabalho.

AUDITORIAS, DIS E DDS?

Uma das técnicas desenvolvida pela Dupont era denominada de Dialogo de 2minutos (Take two). O supervisor chegava perto do trabalhador individualmente e falava: “vamos dar dois minutos pra ver como é que você tá fazendo esse trabalho e se possível fazer isso mais seguro”. Era uma espécie de Diálogo Individual de Segurança (DIS) de 2 minutos que era feito sistemáticamente. Ou seja, qualquer supervisor em qualquer tipo de empresa, com ou sem SESMT poderia fazer isso  tranquilamente.

Ou seja, a auditoria mostrava um comportamento e esse comportamento era discutido com o trabalhador.

O mais interessante é que a técnica utilizada pela DuPont, após as auditorias, se resumia em formular apenas 2 questões consideradas de impacto comportamental para o trabalhador que era identificado como adotando comportamento de risco:

1. Mostrava-se ao trabalhador os comportamentos de risco atribuídos durante a auditoria e em seguida se perguntava: o que aconteceu? (ou seja: o que foi que houve, que você fez isso?); com essa pergunta, buscava-se inculcar uma postura de auto-observação ou de autocrítica por parte do trabalhador sobre o que ele estava fazendo. Ou seja, como ele estava pensando e agindo durante a execução da tarefa. O trabalhador poderia se sentir pressionado, e ficar um pouco ansioso, mas isso aumentava seus mecanismos de alerta;
2. E a segunda era um pouco mais tranquilizadora e suscitava a participação: como você acha que poderia ter feito de forma mais segura? (no nosso linguajar: como você acha que vai dar pra fazer sem dar errado?); com isso, buscava-se fazer com que o trabalhador pensasse mais ainda sobre o que estava fazendo, sobre os riscos e finalmente como controlar esses riscos, mas ao mesmo tempo deixava uma brecha para que ele participasse e reduzisse a sua ansiedade;

Essa técnica visa justamente identificar comportamentos e trabalhar para resolver tambem do ponto de vista da psicologia comportamental. Trata-se de técnica simples, que pode ser adotada em qualquer empresa.

DESENVOLVENDO BBS

Após a implantação de Auditorias de Comportamento existem 5 indicadores chave para que uma BBS possa ser gerenciada. Veja como você pode aplicar os conceitos abaixo em sua empresa. Tenha cuidado para não ficar focando muito só no processo, mas buscando resultados e fazendo contínuo feed back com os trabalhadores e o SESMT.

A Segurança Baseada em Comportamento (Behaviour Based Safety) ou Segurança Comportamental é o uso da psicologia comportamental para promover a segurança no ambiente de trabalho e que consiste basicamente a criação de uma sistemática, um processo contínuo que define um conjunto de comportamentos que reduzem o risco de lesões relacionadas ao trabalho, coletar dados sobre a frequência de práticas críticas de segurança e, então, garantia que o feedback o o principio de reforçamento encorajem e apoiem as melhores práticas de segurança. 

Esse processo mantem a redução de acidentes, facilita a gestão de riscos e pode evitar o aparecimento da complacência em caso de uma redução sustentada nos incidentes de trabalho em qualquer setor de qualquer empresa.

Finalmente, é preciso lembrar que qualquer avaliação de um sistema de segurança só será efetivo na medida em que houver integridade e convicção da validade da ferramenta e que a sua implantação pela liderança possa ser reconhecida pela empresa como sendo efetiva de forma a que haja capacidade de empreender os necessários ajustes baseados nos resultados.