Tecnologia biomédica da NASA utilizada no resgate dos mineiros

O artigo abaixo foi publicado no site da OHS on line e mostra como a segurança e saúde no trabalho tem se beneficiado de pesquisas em alta tecnologia, seja para a fabricação de EPIs, como no caso do acidente de Felipe Massa, seja, como agora, para viabilizar um complexo resgate de trabalhadores.

Quando a equipe de resgate precisou determinar como resgatar com segurança os mineiros chilenos sem que eles perdessem os sentidos e sofressem uma potencial e devastadora fuga de sangue do cérebro, eles procuraram um cientista cuja especialidade era os astronautas no espaço e não mineiros presos abaixo do solo.

“Como eles conseguiram sair da mina sem desmaiar é extraordinário”, disse o Dr. Benjamim Levine, professor de Medicina Interna e consultor da NASA. “Fico feliz porque pude ajudar”.

Após ter sido contactado por consultores da NASA em setembro, Levine, chefe de uma equipe cardiovascular do Instituto Nacional de Pesquisa Biomédica Espacial e dois cirurgiões de vôo da NASA, criaram um protocolo para o retorno seguro dos mineiros para a superfície. Foram estabelecidas linhas de comunicação e suprimentos com os mineiros em agosto mas os suprimentos através de mais de 2.000 pés levaram semanas para começar, desde o colapso do dia 5 de agosto.

SISTEMA CARDIOVASCULAR

A maior preocupação em relação à saúde quando começou a operação de contato era que os homens poderiam estar muito débeis para suportar a subida até à superfície. A cápsula de resgate não era larga o suficiente para o passageiro deitar-se e assim temia-se que o coração do mineiro que viesse a desmaiar, não teria força para bombear sangue para o cérebro. Sem um nível de oxigênio adequado no cérebro (na posição vertical), o mineiro poderia morrer no meio do resgate. E a viagem de resgate, que estava estimada para demorar 4 horas, acabou em menos de 1 hora por indivíduo.

No final das contas, as descobertas da ciência médica para uso no espaço liberou os mineiros do seu confinamento. Levine é o principal investigador dos efeitos de longa duração nos vôos espaciais relativamente ao sistema cardiovascular e tem prestado consultoria para a NASA. Ele tem participado da assistência a resgates em altas altitudes em acidentes no Nepal e Alaska.

“Cerca de 2/3 dos astronatuas irão desmaiar quando colocados em pé após um período de confinamento mesmo em um vôo espacial de curta duração”, disse Levine. Confinamento prolongado em um pequeno espaço traz preocupações similiares, esteja a pessoa no espaço ou abaixo do solo.

A maior parte do tempo de Levine é empregada no estudo da capacidade de adaptação do coração, incluindo efeitos de condições extremas, seja em vôos espaciais ou altas altitudes, assim como no envelhecimento e em exercício de treinamento para o coração e vasos sanguíneos. Seus estudos utilizados no resgate do Chile ainda não foram publicados.

Um dos aspectos do Estudo de Levine baseia-se no trabalho do Dr. Donald Seldin, que trabalha com aldosterona (hormônio que regula o balanço de sódio e potássio do organismo) o que sugere que os mineiros tomaram uma forma sintética do hormônio para ajudá-los a reter água e sal no organismo (elementos básicos do metabolismo orgânico).

O Protocolo do Dr. Levine incluía que a cápsula fosse larga o suficiente para que os homens pudessem cruzar suas pernas e apertar as coxas e nádegas juntas com o objetivo de ajudar o bombeamento de sangue para o coração. Os homens utilizaram meias compressivas (semelhante a pacientes com varizes) e foram treinados para tossir fortemente durante o trajeto de subida caso eles começassem a enxergar flashes de luzes (indicando deficit circulatório), porque assim eles forçariam sangue para o cérebro.

A ordem de resgate podia ser alterada, caso os paramédicos se deparassem com súbitos problemas de saúde. Sabe-se que pelo menos dez dos mineiros sofriam de hipertensão, diabetes, infecções dentárias e respiratórias e lesões da pele causadas pelos elevados níveis de umidade no interior da mina San José.

A cápsula estava equipada com uma câmara, destinada a monitorizar eventuais sinais de pânico, e os mineiros dispunham de máscaras de oxigénio. Para prevenir a formação de coágulos causados pela velocidade da subida, todos os homens vestiam meias de compressão e tiveram de tomar aspirina. Nas últimas horas, foram submetidos a uma dieta líquida preparada pela Agência Espacial dos Estados Unidos. O objetivo era evitar que vomitassem durante as dez ou mais rotações que a cápsula teve de fazer até irromper do solo.

“Os cirurgiões da NASA e outros médicos envolvidos fizeram um trabalho notável mantendo os homens saudáveis sob condições extremas”, disse Levine. “Eu fico feliz porque pude ajudar seus esforços a um resgate bem sucedido”.

não foi mencionada a autoria do artigo;  confira em
http://ohsonline.com/articles/2010/10/24/ut-southwestern-researcher-used-nasa-research-to-rescue-chilean-miners.aspx?admgarea=ht.E

Tradução e compilação: Prof. Samuel Gueiros, Med Trab
(Obs. textos em itálico e parênteses procuram ampliar a compreensão do contexto)

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